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quarta-feira, outubro 10, 2007

III – Realidade

Até onde vai a loucura de um homem? Até quando vou ter este mesmo sonho? Vezes e vezes sem conta, este sonho rasga-me as noites e leva-me a acordar em sobressalto. Sempre no mesmo local, na clareira, sempre na mesma divagação sobre a saudade. Talvez esteja na altura de me libertar dos meus demónios.
Sento-me na cama, acendo o meu candeeiro de lava e tudo o que antes era negro resplande de verde. É aqui, na solidão, que todas as manhãs acordo contigo no pensamento. A devorar a alma. Debruço-me sobre a memória, trazendo a mim aqueles breves momentos que são só nossos; pessoas, locais, pequenas coisas que vivemos e conhecemos juntos e que no fim são tudo o que nos faz perfeitos.

Talvez esteja preso a ti. Talvez me devesse libertar das correntes que me abraçam. No fundo, gostava que tudo voltasse a ser o que era antes. Levanto-me, pego nas calças que estavam lançadas na cadeira e vou até à cozinha buscar uma caneca de café. Regresso até ao quarto e começo a fazer aquilo que esperam de mim, escrever. É aqui que jaz a minha esperança, na liberdade que a vida me deu de viver livre de compromissos sociais. O mundo compreendeu que a minha força está nas palavras, e, talvez forçado pela sua força, talvez rendido à minha auspiciosa astucia na escrita, deixa-me viver apenas do meu dom. A escrita.

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