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quarta-feira, outubro 10, 2007

II - Saudade

Por agora chega de caminhar. Sigo nesta estrada há dias, quem sabe se não são meses. Talvez devesse criar um relógio, ou um telemóvel, sempre poderia ter noção do tempo, ou mesmo ligar-te... ah, não podia não, ainda não criei o teu telefone...mas não faz mal, por agora a saudade é tolerável. Agora que penso, o que é a saudade? Como se quantifica? Até que ponto é tolerável?
Sentado na pedra desenho no espaço outrora de arvorede uma bela clareira. Um espaço amplo, rodeado ainda pela densa floresta, mas com um belo banco encostado ao rio que corre junto ao seu lado direito. É aqui, sentado, confortável, que ao som da água a correr penso sobre a saudade.

Começando por tentar definir a palavra, o sentimento, penso em como no meu caso a saudade é aquilo que sinto na tua ausência física a meu lado. Aquele vazio cá dentro que me pressiona o estomago e me faz lacrimejar. Saudade será talvez o sentimento que se instala, e aumenta com o passar do tempo, a nostalgia de te poder ter comigo mas que no presente não se verifica. Perante esta semi-definição, passo à tentativa da quantificação. Quanto é que é muita saudade? E pouca? Até onde se pode aguentar antes de entrar em devaneio, desespero, talvez loucura? Se pensar bem, não é possivel sentir pouca saudade; ao sentir a ausência de quem se ama, a dor é demasiada. Poder-se-à dizer que a saudade inicial, que se instala nos primeiros momentos vazios, pode ser chamada de saudade embrião: um tipo de saudade forte, que nos rasga o ser dos pés à cabeça, mas que até certo período temporal é tolerável através de qualquer tipo mínimo de comunicação com a pessoa querida, distracção com outras actividades, ou mesmo ausência de pensamento. Porém, com o tempo, temos um novo tipo de sentimento: a saudade destrutiva; aqui, a dor instala-se, o ser deixa de ser capaz de pensar, em todo o lado existem coisas que nos lembram da outra pessoa, o suicídio mental e metabólico começa a aparecer e, a loucura e desejo de fazer o que for para estar com o outro devora o ser.
Saudade não é mais do que o sentimento de pertença perdida de alguém. O sentir que devias estar aqui mas não estás, que farei o que for preciso para que voltes a estar.

1 comentário:

Ruim dos Santos disse...

Catita...

"farei o que for preciso para que voltes a estar."

Nem a tua cama fazes quanto mais...